Besouro Verde, de Michel Gondry ***1/2

Esta adaptação cinematográfica das aventuras do Besouro Verde tem origem um tanto bastarda. Afinal, trata-se de um personagem relativamente obscuro dentro do universo pop, tanto que é normal haver confusão em saber de que mídia afinal ele se originou – pelo que eu sei, as primeiras histórias do combatente esmeralda do crime apareceram num seriado televisivo dos anos 60. A partir daí, houve versões para outros meios, principalmente os quadrinhos. Assim, o fato de não se tratar de uma figura tão tradicional do imaginário popular possibilitou esta excêntrica diversão que representa “Besouro Verde” (2011). Para começar, o roteiro de Seth Rogen (que também interpreta o personagem-título) e Evan Goldberg, a mesma dupla que escreveu a trama do ótimo “Superbad” (2007), faz uma esperta síntese entre uma comicidade escrachada contemporânea e o tom camp do seriado televisivo sessentista. Essa linha temática encontra o complemento adequado na direção surreal de Michel Gondry. Céticos podem achar que o autoral cineasta francês tenha embarcado no projeto apenas pela grana, mas o resultado final do filme revela bastante dos maneirismos típicos de Gondry. A forma com que os efeitos especiais se integram na narrativa remete a um insano estilo cartunesco, o que fica ainda mais acentuado pela atmosfera sombria e violenta que permeia em algumas sequências (o que acaba causando um contraste desconcertante com o aludido bom humor da ótica de Rogen e Goldberg). As cenas de ação de “Besouro Verde”, em particular, representam um pequeno achado – confesso que não sou um admirador daquelas tomadas em câmera lenta estilo “comercial de sabonete” de Zack Snyder nos sofríveis “300” (2007) e “Watchmen” (2009), mas no filme de Gondry tais tomadas que beiram o estático ganham uma dimensão criativa muito mais intrigante, principalmente pela proximidade existencial com a estética dos quadrinhos que se torna muito mais orgânica.